domingo, 20 de julho de 2008

As escolas da Vedanta



Escrito por Enki


Vedanta é a tradição espiritual explicada nos Upanishads e que lida com os aspectos da auto-realização, onde procuramos entender a natureza da Realidade Última, chamada Brahman.

A tradução da palavra Vedanta é “o final de todo conhecimento”. No entanto, uma tradução mais profunda pode ser feita, tornando a palavra “conhecimento interior” (ou do Ser).
A tradição da Vedanta é baseada em leis espirituais imutáveis, comuns a todas as religiões ou tradições espirituais e tem como objetivo a conquista da Consciência Cósmica. É portanto, uma filosofia de cunho Universal ou universalista.

De forma mais didática podemos dizer que a palavra Vedanta é composta por duas outras, a saber:
* Veda = "conhecimento" + anta = "fim, conclusão": "o ponto culminante do conhecimento"
* Veda = "conhecimento" + anta = "essência", "núcleo", ou ainda "interior": "a essência dos Vedas" ou “ o conhecimento interior (esotérico)”.

O Vedanta também é conhecido como Uttara Mimamsa, ou a “última” ou “investigação elevada”. Há também a filosofia conhecida como Pūrva Mimamsa, geralmente chamada apenas de Mimamsa e que lida com explicações de sacrifícios e uso dos mantras na parte conhecida como Samhita dos Vedas e dos Brahmanas. Já o Vedanta lida com os ensinamentos esotéricos dos Aranyakas (“escritos da floresta”) e dos Upanishads, compostos aproximadamente entre 9 A.C. e 8 D.C.

A filosofia Vedanta foi formalizada por volta do 200 A.C. com o surgimento do tratado “Vedanta Sutra”, composto pelo grande Sábio Vyasa, também conhecido como Badarayana.
O texto é conhecido por vários outros nomes como “Brahma Sutra”, “Vyasa Sutra”, “Badarayana Sutra” e “Vedanta Darshana”.
Por causa de sua linguagem esotérica, várias interpretações diferentes surgiram com relação ao texto, dando origem a várias subescolas de pensamento, cada uma clamando por ser a interpretação correta do texto original. No entanto, todas as sub-escolas concordam em pontos comuns como, por exemplo, o abandono dos rituais secos em favor da prática da meditação, fundamentada no dharma e em um sentimento amoroso, que traz ao praticante a certeza da bem-aventurança vindoura no final do processo discriminativo.
Todas as subescolas derivam seus conhecimentos primariamente dos Upanishads.O foco principal da filosofia contida nos Upanishads, de que a Realidade Última, chamada Brahman, é absoluta, imutável e sempre a mesma, é o núcleo da Vedanta.
Com o passar do tempo, muitos sábios interpretaram a sua maneira os Upanishads e o Vedanta Sutra, escrito pelo sábio Vyasa.
É importante salientar que essas interpretações eram pertinentes ao tempo e contexto em que os sábios viviam.Dessas interpretações, podemos ressaltar seis como sendo as mais importantes e dessas seis, três como sendo as mais proeminetes: Advaita Vedanta, Vishishtadvaita and Dvaita.
Podemos dizer que a filosofia possui oito subescolas:
Advaita Vedanta
Vishishtadvaita
Dvaita
Dvaitādvaita
Shuddhadvaita
Achintya Bhedābheda
Purnadvaita ou Advaita Integral
Vedanta Moderna
As seis primeiras são tradicionais e as duas últimas são mais recentes.

Advaita Vedanta
Essa interpretação foi proposta pelo sábio Adi Shankara e seu Guru Gaudapada. De acordo com essa escola de Vedanta, Brahman é a única realidade e o mundo, como ele nos aparece, é ilusório. Essa linha de pensamento deu origem ao conceito de Ajativada ou não-criação.
É pela ação de um poder ilusório de Brahman, chamado Maya, que o mundo surge. Ela afirma que a causa de todo o sofrimento existente no mundo é o esquecimento, através da ignorância, da Realidade Última, Brahman. Sendo assim, apenas o conhecimento de Brahman pode nos trazer a liberação.
Essa filosofia nos explica que, quando tentamos compreender Brahman através da mente, ele (Brahman) aparece a nós como Ishvara (o Senhor, Deus no sentido de Criador, o Pai), separado da criação e dos indivíduos. No entanto, os proponentes da filosofia nos dizem que, em verdade, não há diferença entre a alma individual (muitas vezes chamada de Atman) e Brahman.
A emancipação ou liberação estaria no conhecimento dessa não-dualidade (advaita). Assim, o caminho final rumo à liberação só poderia ser conquistador através de Jñana ou sabedoria.

Vishishtadvaita
Essa subescola foi proposta pelo sábio Ramanuja e tem como principal ensinamento a idéia de que a alma individual, o Atman é uma parte de Brahman, ou a Alma Cósmica. Assim, mesmo sendo similares, ambas não são idênticas.Enquanto a Advaita Vedanta nega qualquer tipo de atributo à Brahman, essa escola prega a existência de atributos em relação à Brahman, como por exemplo o conceito de almas individuais e o do mundo fenomênico.
Portanto, para a Vishishtadvaita, Brahman, as almas individuais e a material são coisas distintas.
Enquanto a Advaita Vedanta prega a Jñana Yoga como caminho para a liberação, essa escola propõe o caminho de Bhakti ou devoção a Deus como forma de liberação. Na maioria das vezes (mas não em todas, importante frisar) a devoção é direcionada ao segundo aspecto da trindade hindu, chamada Vishnu, e a seus avatares ou encarnações.

Dvaita
O pensamento Dvaita foi proposto por Madhva e relaciona Deus à Brahman e este a Vishnu, mais precisamente na figura de Krishna, que segundo a tradição, é a oitava encarnação de Vishnu.
Para o pensamento Dvaita, Brahman, todas as almas individuais (jivatman) e a matéria são ambos eternos e ao mesmo tempo entidades separadas.
Um aspecto muito interessante dessa filosofia é a negação da existência de Maya (no sentido de não-existência, ilusão), apesar de o próprio Krishna, no Baghavad Gita, pregar a existência dela.
Essa subescola também prega o caminho de Bhakti como sendo a senda para a liberação.
Ao contrário do que vemos na escola Advaita, aqui se sutenta que a diferença está na natureza da substância (composta pelos gunas). Por causa disso, muitos chamam essa escola de Tattvavâda.
Segundo essa subescola, existem cinco diferenças, a saber:
· Entre Brahman e a alma individual
· Enrte cada alma individual
· Entre Brahman e a matéria (prakriti)
· Entre a alma individual e a matéria
· Entre os fenômenos materiais (matéria x matéria)
Outro aspecto importante dessa filosofia é a sua visão sobre o sistema de castas exposto nos Vedas.
Segundo o Dvaita, as castas não são determinadas pelo nascimento e sim pela tendência da alma.
Um brâmane pode nascer na casta dos párias e vice-versa.Em verdade, o sistema de Varna ou castas é determinado pela natureza da alma, e não pelo nascimento.
Hoje o sistema se encontra deturpado e mantido apenas por questões discriminatórias.

Dvaitādvaita
Escola propostas pelo sábio Nimbarka, que viveu por volta do século 13 D.C.. Ele usou como base os ensinamentos de uma escola anterior chamada Bhedābheda, que era ensinada pelo sábio Bhāskara. Essa filosofia prega que a alma individual (jivatman) é, ao mesmo tempo, igual e diferente de Brahman.
Essa escola também vê em Krishna a personificação de Deus.
A Dvaitādvaita vê a alma individual como sendo naturalmente Consciência (jñana-svarupa), sendo apta a conhecer sem a ajuda dos sentidos corporais.
Como métodos para se atingir a liberação, a escola propõe quatro sadhanas ou disciplinas:
Karma- ação
Quando feito conscientemente e com o espírito adequado, de acordo com seu contexto de vida, traz o conhecimento que conduz à salvação.