domingo, 7 de setembro de 2008

Chakras e Desenvolvimento Pessoal
Denise H. Bandeira

Muladhara – 1 à 7 anos (infância)
Começamos a desenvolver as características da nossa personalidade. Identidade primária.
Aprendemos a sentar, engatinhar, andar com as próprias pernas.
Manifestamos a necessidade de ordem, organização no tempo e espaço e de manter uma lógica.
Como fomos completamente dependentes, desenvolvemos os nossos conceitos de lealdade e obediência, identidade e honra familiar e identificação com a tribo.

Svadhisthana – 8 à 14 anos (puberdade)
Identidade secundária, imagem de si.
Nesta fase se dá a descoberta da sexualidade e a produção hormonal dá as características femininas e masculinas.
Há um impulso para se voltar par fora do clã familiar, de ter novos relacionamentos, novos conhecimentos e de expandir o seu ambiente físico, de buscar prazer e aventuras.

Manipura – 15 à 21 anos (adolescência)
Afirmação da personalidade independente e conhecedora dos limites. Identidade social.
A pessoa procura encontrar o seu papel no mundo.
È o centro do poder pessoal. Formação do ahamkara ou noção de eu.
Este é também o centro das emoções, nesta fase a pessoa dificilmente sabe lidar com as emoções, talvez por este motivo busque emoções fortes como forma de se auto regular.
Etapa de Brahmachari ou estudante.

Anahatha - 22 à 28 ou 49 anos (maturidade aos 28 anos - revolução de Saturno)
Corresponde ao nível afetivo. Nesta faixa etária já teríamos os pés no chão (segurança – Muladhara), maturidade sexual e força interna para vencer os obstáculos (Svadhistana) e uma personalidade bem estruturada (Manipura) o que nos permite compartilhar experiências e buscar parcerias sem abdicar de nossa individualidade.
Nesta etapa a pessoa está pronta para um relacionamento maduro, para o casamento e para ter filhos, para a busca de uma religião e amor ao supremo.
Etapa de Grhastha (casado- de 25 à 49 anos). Prontos para formar e manter o nosso próprio clã.

Vishudda – 29 à 35 anos (ou 50 à 75 anos)
Corresponde ao nível da verbalização, expressão e criatividade.
Depois de fazer um balanço da vida, a pessoa consegue descartar as futilidades e se volta para o auto conhecimento e para o que realmente dá sentido à vida.
Aquí ocorre o segundo nascimento, o do iniciado. Nascemos para outra realidade a espiritual. Todos os valores, crendices, e visão da vida devem ser abandonados para que possa surgir uma compreensão mais abrangente de si mesmo, da vida e de Deus (Impessoal). A pessoa passa a se dedicar ao auto estudo.
Etapa de Vanaprastha (aposentado 50 à 75 anos) a pessoa para de trabalhar e se dedica aos estudos novamente.


Ajna – 36 à 42 anos (ou 75 anos em diante)
Corresponde a mente e suas associações, a intuição.
A pessoa se vê impelida a sempre buscar a diferença entre verdade e ilusão, entre o eterno e o aparente. Há discernimento (buddih) para fazer escolhas.
Etapa do Sannyasi (renunciante – 75 e diante). Ele tem capacidade para renunciar a superficialidade do mundo , renunciar aos seus desejos pessoais para favorecer o crescimento pessoal e coletivo. Tendo passado por todas as etapas de desenvolvimento sua bagagem de estudo e auto conhecimento lhe favorece o ensino.

Sahasrara – 43 à 49 anos (ou na liberação)
Desejo ardente de liberação dos condicionamentos, de se liberar do sofrimento, da limitação entre os 43 e 49 anos. Segundo a Psicologia essa é a melhor idade para se buscar uma terapia, pois a pessoa já vivenciou um ciclo de vida e pode compreender o que deve ser trabalhado.
Somente com a liberação final ou Moksha ocorre:
Liberação de todos os Sanskaras, tendências de virtude e pecado e liberação dos desejos reprimidos.
Nível transpessoal ou transcendental.
Aqui se chega os estado de Sábio.


Fases do desenvolvimento segundo a Psicologia:

Fase oral que se processa a partir do nascimento até mais ou menos os dois anos de idade, tendo como características a posição de total dependência do bebê em relação à mãe e sua intensa relação com o seio materno; esta é considerada o alicerce da estruturação do psiquismo.

Fase anal que se processa entre os dois e quatro anos, e, caracteriza-se pela organização da libido na zona erógena anal; Reich coloca como não sendo uma fase natural mas resultante das formas educadoras em relação ao controle esfincteriano anal.

Fase fálica se dá a partir dos três ou quatro anos, quando a criança adquire maior consciência das diferenças anatômicas entre os sexos e da identidade sexual masculina e feminina, é considerada como preparatória para o início do complexo de Édipo.

Fase genital que se inicia aos cinco anos de idade e vai até à puberdade, se caracteriza pela passagem pelo complexo de Édipo e sua resolução. Essa é responsável pela constituição da identidade sexual e da escolha objetal e suas identificações; há nessa fase intensa concentração de energia libidinal nas zonas genitais, possibilitando a organização da sexualidade adulta. Reich coloca que a formação do caráter, como forma definitiva, se inicia com a superação do complexo de Édipo, justamente na adolescência.


Relação entre as Pulsões dos chakras e os Purusharthas:

Segundo os Vedas existes quatro objetivos humanos: Artha, Kama, Dharma e Moksha.

Artha = segurança
Em forma de dinheiro, relacionamentos, um lar, um emprego, reconhecimento ou poder de qualquer tipo.

Estas são pulsões doMuladhara Chakra. Quando falta o dinheiro para a manutenção básica da vida a pessoa fica aprisionada no nível deste chakra.

Kama = prazer
Pode ser sexual, laser (jogos, viagem...) ou qualquer coisa que satisfaça os sentidos (ex. comida e bebida para o paladar, carinho e relações para a tato, perfumes para o olfato, beleza para a visão, musica para a audição, que agrade a mente, que toque o coração ou que obtenha uma certa apreciação.

Estas pulsões estão relacionadas ao Swadhistana Chakra. Muitas pessoas ficam aprisionadas neste nível.


Dharma = Harmonia ou ações que produzem uma satisfação pessoal e externa. Ação correta.
São ações que produzem uma satisfação por estar fazendo aquilo que é esperado de mim. Dharma é a medida de sua maturidade, quanto mais maduro você é, mais Dharmico você será.

Esta pulsão é do Manipura chakra, mas nem sempre as ações tem como objetivo o bem comum, quando a pessoa tem o interesse em tirar proveito (ego) ela fica aprisionada neste nível sem energizá-lo.


Moksha = liberdade ou liberação
É a busca de se libertar de um aprisionamento, de algo que limite você e que não o deixe ser o que você é ou gostaria de ser. Você deseja se libertar da insegurança, da insatisfação, mas não é buscando um prazer imediato que vai lhe trazer a satisfação, ela sempre será momentânea, você deseja se libertar de vez da insatisfação e esse é o objetivo do Yoga.

O Objetivo de liberdade é comum no homem, mas nem sempre a pessoa sabe onde chegar. Há uma ignorância total, a liberdade que se deseja põe em risco a liberdade do outro (libertinagem), O objetivo de Moksha é muito difícil de ser alcançado.











A psicologia considera a pulsão a força de impulsiona a ação.

Pulsões:
Quando Freud usa o termo, ele não se refere aos complexos padrões de comportamento herdados dos animais inferiores. Freud reconhecia os instintos como necessidades e desejos:
Necessidades = os aspectos físicos dos instintos
Desejos = aspectos mentais dos instintos

Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.

Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto:
A fonte é quando emerge uma necessidade, podendo ser uma parte ou todo corpo.
A finalidade é reduzir essa necessidade até que nenhuma ação seja mais necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele deseja no momento.
A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer o instinto e é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente.
O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original.

Entretanto nem toda pulsão pode ser satisfeita e quando encontra algum obstáculo produz tensão.
Embora seja possível catalogar uma série ampla de instintos, Freud tentou reduzir esta diversidade a alguns instintos que chamou de básicos.

Instintos Básicos:

Num primeiro momento Freud descreveu duas forças instintivas opostas, a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas últimas descrições, mais globais, encararam essas forças ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte. Essas formulações supõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e não-resolvidos. Tal antagonismo básico não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada por estas ambas forças instintivas em combinação.
Freud impressionou-se com a diversidade e complexidade do comportamento que emerge da fusão das pulsões básicas. Por exemplo, ele escreve: "Os instintos sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se substituírem, permitindo uma satisfação instintiva ser substituída por outra, e por sua possibilidade de se submeterem a adiamentos . . . " (1933, livro 28, p. 122 na ed. bras.). Os instintos seriam então, canais através dos quais a energia pudesse fluir.

Libido e energia Agressiva

Cada um destes instintos gerais teria uma fonte de energia separadamente. Libido (da palavra latina para "desejo" ou "anseio") é a energia aproveitável para os instintos de vida. "Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenômenos psicossexuais observados" ( 1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.). Outra característica importante da libido é sua mobilidade, ou a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra.
A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial, como tem o instinto da vida (Libido). Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a Libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto.
Catexia
Catexia é o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é vinculada a ou investida na representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa. A libido que foi catexizada perde sua mobilidade original e não pode mais mover-se em direção a novos objetos. Está enraizada em qualquer parte da psique que a atraiu e segurou.
Tomando a Libido como exemplo de uma dada quantidade de dinheiro, a Catexia seria o processo de investir esse dinheiro. Digamos, então, que uma porção do dinheiro foi investida (catexizada), permanecendo nessa hipotética aplicação e deixando algo a a menos do montante original para investir em outro lugar.
Estudos psicanalíticos sobre luto, por exemplo, interpretam o desinteresse das ocupações normais e a preocupação com o recente finado como uma retirada de Libido dos relacionamentos habituais e uma extrema Catexia na pessoa perdida.
A teoria psicanalítica se interessa em compreender onde a libido foi catexizada inadequadamente. Uma vez liberada ou redirecionada, esta mesma energia ficará disponível para satisfazer outras necessidades habituais. A necessidade de liberar energias presas também se encontra nos trabalhos de Reich, Rogers e Maslow, assim como no Tantra Yoga. Cada uma dessas teorias chega a diferentes conclusões a respeito da fonte da energia psíquica, mas todos concordam com a alegação freudiana de que a identificação e a canalização dessa energia são uma questão importante na compreensão da personalidade.

Consultas:
Texto de Paulo Murilo Rosas
Texto de José Henrique Volpi
Livro: Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung

sábado, 6 de setembro de 2008

MEMÓRIA MUSCULAR E VISCERAL (por Silvio Porto).
Uma das descobertas importantes da neurociência refere-se ao funcionamento da memória: as estruturas cerebrais essenciais para a formação de memória consciente não funcionam durante os primeiros dois anos de vida. As vivências desse período não ficam registradas no cérebro, mas no corpo. A memória está nos olhos, na boca, nas vísceras. A constatação mostra que Freud também estava certo ao dizer que “o eu é acima de tudo corporal”, em “O Ego e o Id” (1923). E explica ainda o que Freud chamava de amnésia infantil (ou recalque primário). Hoje, os neurocientistas mostram que esse período não foi esquecido; na verdade, não vêm à consciência porque, quando foi vivido, não foi registrado pelo cérebro, que não estava pronto.

“É interessante que a psicanálise, negada como ciência, seja cientificamente comprovada por neurologistas cognitivos” – diz o psicanalista Joel Birman (do Rio de Janeiro). Ele considera esta comprovação importante para que alguns psicanalistas percebam que, sem uma abordagem afetiva, que dê acesso à memória corporal, não há tratamento psicanalítico, conforme suas próprias palavras: “Uma parcela significativa da psicanálise esqueceu que o psíquico é corporal. Foi por isso que as chamadas terapias corporais, como a bioenergética e as reichianas, ampliaram-se tanto em todo mundo, nas últimas décadas”.
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AS IDÉIAS DE FREUD COMPROVADAS EM LABORATÓRIO.
A teoria freudiana da estruturação do psiquismo, de 1933, fugia da anatomia cerebral da época. Para Freud, o sistema psíquico era formado pelo inconsciente(id), fonte dos impulsos e da motivação dos seres humanos. Boa parte desses impulsos eram limitados pelo consciente (ego), para impedir que eles comprometessem o pensamento racional. Havia também o superego, uma estrutura que intermediava os conflitos entre o ego e o id, constituída em boa parte pelas leis da cultura. Quando essa repressão não funcionava bem, segundo Freud, ocorriam as fobias, o pânico, as obsessões, os ataques histéricos, a psicose etc. A psicanálise teria então a função de trazer o inconsciente à consciência, elaborando o que exatamente deu origem às ações inconscientes.

Os mapeamentos neurológicos recentes combinam com as concepções de Freud:
1) O tronco encefálico reticulado e o sistema límbico, responsável por instintos e impulsos, correspondem ao id freudiano.
2) Na região frontal ventral, que lida com a inibição consciente e seletiva desses impulsos inconscientes, estaria a repressão proveniente do ego.
3) Na região frontal dorsal, que controla as funções conscientes, estaria o superego e o ego também estaria no córtex posterior, que percebe o mundo exterior.
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As pesquisas mostram como a repressão de lembranças é deliberada e seletiva: danos na região parietal direita fazem com que a pessoa não perceba danos físicos, como a paralisia de um braço. Danos na região límbica frontal, que controla aspectos essenciais da consciência, por exemplo, faz com a pessoa invente histórias fantásticas a seu respeito, sem contatar imagens inconscientes que tem de si mesma. Hoje estes processos mentais inconscientes foram comprovados em laboratórios de neurocientistas (recomendo a leitura de O Mistério da Consciência, de António Damásio).

Freud chocou ao pensar o homem como um animal de instintos primitivos, sexuais, infantis e às vezes agressivos. Hoje a neurociência classifica o ser humano como um animal que, como todos os mamíferos, tem quatro circuitos cerebrais instintivos:
1º) o de recompensa e busca (do prazer), regulado pelo neurotransmissor dopamina e envolvido com os quadros de compulsão e vício;
2º) o de raiva e de agressões raivosas, não predatórias;
3º) o de medo e ansiedade;
4º) o de pânico, circuito cerebral que comanda os impulsos maternais e as relações sociais.

“A psicanálise ainda é a visão da mente mais satisfatória e coerente. As pesquisas prometem novos parâmetros para a psiquiatria”, afirma Eric R. Kandel.

Vamos, agora, juntar uma série de afirmações que fizemos nos parágrafos anteriores, com base, essencialmente, nas pesquisas relatadas dos neurocientistas.

Há muito tempo estudamos que Freud constatou que o ser humano é movido por impulsos inconscientes, que sofrem repressão para não se tornarem conscientes. Quando essa repressão não funciona bem, poderiam ocorrer ataques histéricos, obsessões, fobias, pânico e surtos psicóticos. Agora, o mapeamento do cérebro identificou que uma via neuronal sob o córtex consciente conecta a percepção presente com estruturas primitivas responsáveis pela geração de medo. Como essa via neuronal atravessa o hipocampo, acontecimentos presentes desencadeiam lembranças emocionalmente importantes, provocando sensações que parecem irracionais (memória emocional). Os neurocientistas também, com suas recentes pesquisas, vieram a confirmar que as experiências da primeira infância influenciam o padrão de conexões cerebrais que moldam a nossa personalidade e a saúde mental para o resto da vida. Essas referências são importantes de serem relembradas.

Na minha opinião, no entanto, a mais importante contribuição da neurociência refere-se ao funcionamento da memória: as estruturas cerebrais essenciais para a formação de memória consciente não funcionam durante os primeiros dois anos de vida. As vivências desse período não ficam registradas no cérebro, mas no corpo. A memória está nos olhos, na boca e nas vísceras. A neurociência comprovou em laboratórios que as experiências dos primeiros meses de vida entre mãe e bebê influenciam o padrão de conexões cerebrais de modo a moldar a nossa personalidade e a saúde mental futura. É verdade, a relação mãe-bebê é fundamental, mas não se pode esquecer, também, da importância da figura do pai na formação do caráter da criança.

Os neurocientistas comprovaram que as estruturas cerebrais essenciais para a formação de memória consciente não são funcionais durante os primeiros dois anos de vida. Esta memória ficou retida no corpo e, por ser anterior á formação completa do cérebro, não é articulada mentalmente (memória muscular e visceral). E explica ainda o que Freud chamava de amnésia infantil ou recalque primário. O que os neurocientistas comprovaram com suas pesquisas é que esse período não foi esquecido; eles não vêm à consciência porque, quando foi vivido, não foi registrado pelo cérebro (que ainda não estava pronto).

Alguns psicanalistas, ante o resultado destas recentes pesquisas, perceberam que sem uma abordagem afetiva que dê acesso à memória corporal, não há tratamento psicanalítico. Joel Birman afirma: “Uma parcela significativa da psicanálise esqueceu que o psíquico é corporal. Foi por isso que as chamadas terapias corporais, como a bioenergética e as reichianas, ampliaram-se tanto em todo mundo, nas últimas décadas”. Birman diz ainda que esta memória que não está concentrada no cérebro; será mantida a vida inteira nos olhos, na boca, no abdômen, nos dedos: “São as zonas erogenizáveis pela relação da mãe com o bebê. Nessa fase, o cérebro não tem ainda a mielinização das fibras nervosas e a memória se mantém no corpo”. É este o principal resultado das pesquisas desta nova ciência: NEUROPSICANÁLISE.

domingo, 20 de julho de 2008

As escolas da Vedanta



Escrito por Enki


Vedanta é a tradição espiritual explicada nos Upanishads e que lida com os aspectos da auto-realização, onde procuramos entender a natureza da Realidade Última, chamada Brahman.

A tradução da palavra Vedanta é “o final de todo conhecimento”. No entanto, uma tradução mais profunda pode ser feita, tornando a palavra “conhecimento interior” (ou do Ser).
A tradição da Vedanta é baseada em leis espirituais imutáveis, comuns a todas as religiões ou tradições espirituais e tem como objetivo a conquista da Consciência Cósmica. É portanto, uma filosofia de cunho Universal ou universalista.

De forma mais didática podemos dizer que a palavra Vedanta é composta por duas outras, a saber:
* Veda = "conhecimento" + anta = "fim, conclusão": "o ponto culminante do conhecimento"
* Veda = "conhecimento" + anta = "essência", "núcleo", ou ainda "interior": "a essência dos Vedas" ou “ o conhecimento interior (esotérico)”.

O Vedanta também é conhecido como Uttara Mimamsa, ou a “última” ou “investigação elevada”. Há também a filosofia conhecida como Pūrva Mimamsa, geralmente chamada apenas de Mimamsa e que lida com explicações de sacrifícios e uso dos mantras na parte conhecida como Samhita dos Vedas e dos Brahmanas. Já o Vedanta lida com os ensinamentos esotéricos dos Aranyakas (“escritos da floresta”) e dos Upanishads, compostos aproximadamente entre 9 A.C. e 8 D.C.

A filosofia Vedanta foi formalizada por volta do 200 A.C. com o surgimento do tratado “Vedanta Sutra”, composto pelo grande Sábio Vyasa, também conhecido como Badarayana.
O texto é conhecido por vários outros nomes como “Brahma Sutra”, “Vyasa Sutra”, “Badarayana Sutra” e “Vedanta Darshana”.
Por causa de sua linguagem esotérica, várias interpretações diferentes surgiram com relação ao texto, dando origem a várias subescolas de pensamento, cada uma clamando por ser a interpretação correta do texto original. No entanto, todas as sub-escolas concordam em pontos comuns como, por exemplo, o abandono dos rituais secos em favor da prática da meditação, fundamentada no dharma e em um sentimento amoroso, que traz ao praticante a certeza da bem-aventurança vindoura no final do processo discriminativo.
Todas as subescolas derivam seus conhecimentos primariamente dos Upanishads.O foco principal da filosofia contida nos Upanishads, de que a Realidade Última, chamada Brahman, é absoluta, imutável e sempre a mesma, é o núcleo da Vedanta.
Com o passar do tempo, muitos sábios interpretaram a sua maneira os Upanishads e o Vedanta Sutra, escrito pelo sábio Vyasa.
É importante salientar que essas interpretações eram pertinentes ao tempo e contexto em que os sábios viviam.Dessas interpretações, podemos ressaltar seis como sendo as mais importantes e dessas seis, três como sendo as mais proeminetes: Advaita Vedanta, Vishishtadvaita and Dvaita.
Podemos dizer que a filosofia possui oito subescolas:
Advaita Vedanta
Vishishtadvaita
Dvaita
Dvaitādvaita
Shuddhadvaita
Achintya Bhedābheda
Purnadvaita ou Advaita Integral
Vedanta Moderna
As seis primeiras são tradicionais e as duas últimas são mais recentes.

Advaita Vedanta
Essa interpretação foi proposta pelo sábio Adi Shankara e seu Guru Gaudapada. De acordo com essa escola de Vedanta, Brahman é a única realidade e o mundo, como ele nos aparece, é ilusório. Essa linha de pensamento deu origem ao conceito de Ajativada ou não-criação.
É pela ação de um poder ilusório de Brahman, chamado Maya, que o mundo surge. Ela afirma que a causa de todo o sofrimento existente no mundo é o esquecimento, através da ignorância, da Realidade Última, Brahman. Sendo assim, apenas o conhecimento de Brahman pode nos trazer a liberação.
Essa filosofia nos explica que, quando tentamos compreender Brahman através da mente, ele (Brahman) aparece a nós como Ishvara (o Senhor, Deus no sentido de Criador, o Pai), separado da criação e dos indivíduos. No entanto, os proponentes da filosofia nos dizem que, em verdade, não há diferença entre a alma individual (muitas vezes chamada de Atman) e Brahman.
A emancipação ou liberação estaria no conhecimento dessa não-dualidade (advaita). Assim, o caminho final rumo à liberação só poderia ser conquistador através de Jñana ou sabedoria.

Vishishtadvaita
Essa subescola foi proposta pelo sábio Ramanuja e tem como principal ensinamento a idéia de que a alma individual, o Atman é uma parte de Brahman, ou a Alma Cósmica. Assim, mesmo sendo similares, ambas não são idênticas.Enquanto a Advaita Vedanta nega qualquer tipo de atributo à Brahman, essa escola prega a existência de atributos em relação à Brahman, como por exemplo o conceito de almas individuais e o do mundo fenomênico.
Portanto, para a Vishishtadvaita, Brahman, as almas individuais e a material são coisas distintas.
Enquanto a Advaita Vedanta prega a Jñana Yoga como caminho para a liberação, essa escola propõe o caminho de Bhakti ou devoção a Deus como forma de liberação. Na maioria das vezes (mas não em todas, importante frisar) a devoção é direcionada ao segundo aspecto da trindade hindu, chamada Vishnu, e a seus avatares ou encarnações.

Dvaita
O pensamento Dvaita foi proposto por Madhva e relaciona Deus à Brahman e este a Vishnu, mais precisamente na figura de Krishna, que segundo a tradição, é a oitava encarnação de Vishnu.
Para o pensamento Dvaita, Brahman, todas as almas individuais (jivatman) e a matéria são ambos eternos e ao mesmo tempo entidades separadas.
Um aspecto muito interessante dessa filosofia é a negação da existência de Maya (no sentido de não-existência, ilusão), apesar de o próprio Krishna, no Baghavad Gita, pregar a existência dela.
Essa subescola também prega o caminho de Bhakti como sendo a senda para a liberação.
Ao contrário do que vemos na escola Advaita, aqui se sutenta que a diferença está na natureza da substância (composta pelos gunas). Por causa disso, muitos chamam essa escola de Tattvavâda.
Segundo essa subescola, existem cinco diferenças, a saber:
· Entre Brahman e a alma individual
· Enrte cada alma individual
· Entre Brahman e a matéria (prakriti)
· Entre a alma individual e a matéria
· Entre os fenômenos materiais (matéria x matéria)
Outro aspecto importante dessa filosofia é a sua visão sobre o sistema de castas exposto nos Vedas.
Segundo o Dvaita, as castas não são determinadas pelo nascimento e sim pela tendência da alma.
Um brâmane pode nascer na casta dos párias e vice-versa.Em verdade, o sistema de Varna ou castas é determinado pela natureza da alma, e não pelo nascimento.
Hoje o sistema se encontra deturpado e mantido apenas por questões discriminatórias.

Dvaitādvaita
Escola propostas pelo sábio Nimbarka, que viveu por volta do século 13 D.C.. Ele usou como base os ensinamentos de uma escola anterior chamada Bhedābheda, que era ensinada pelo sábio Bhāskara. Essa filosofia prega que a alma individual (jivatman) é, ao mesmo tempo, igual e diferente de Brahman.
Essa escola também vê em Krishna a personificação de Deus.
A Dvaitādvaita vê a alma individual como sendo naturalmente Consciência (jñana-svarupa), sendo apta a conhecer sem a ajuda dos sentidos corporais.
Como métodos para se atingir a liberação, a escola propõe quatro sadhanas ou disciplinas:
Karma- ação
Quando feito conscientemente e com o espírito adequado, de acordo com seu contexto de vida, traz o conhecimento que conduz à salvação.